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O Atual Panorama da Representatividade Feminina no League of Legends

Pela primeira vez desde o lançamento do LOL há investimento para a visibilidade de mulheres no cenário.


Foram necessários apenas 10 anos para que o circuito feminino de League of Legends fosse oficialmente anunciado pela Riot Games, o IGNIS CUP. Parece curto o tempo, mas para as mulheres no cenário de esports é quase uma eternidade. Levaram 5 anos para que as primeiras mulheres entrassem no palco do CBLOL, uma como repórter e outra como apresentadora do Circuito desafiante (a antiga série B do CBLOL). Após isso, moveu-se mais 5 anos para que outras mulheres entrassem de vez para o casting do CBLOL e mudassem de vez a visão do lugar da mulher nesse cenário.


O servidor brasileiro de League of Legends foi criado em 2012 e logo em seguida foi iniciado o competitivo nomeado de Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL), o primeiro campeão foi a equipe VTi. O LOL mudou seu formato em 2013 e se manteve o mesmo até 2020 e em 2021 acabou com o circuito desafiante, mantendo apenas a liga principal e o academy.

Mulheres no Casting

Em 2017, Carol “Tawna” Oliveira foi contratada pela Riot Games como repórter, para realizar entrevistas e matérias especiais para o CBLOL, ela ficou na empresa até 2019, no mesmo ano foi contratada Camila “Camilota” Silveira como apresentadora do Circuito Desafiante, ao lado de Brunno “Colosimus” Colosimo e Diniz “Grunthar” Albieri, a apresentadora decidiu por conta própria sair da Riot e entrar para o Free Fire, com o intuito de se desafiar na carreira. Logo após a saída de Tawna, Rafaela “Rafa” Tomasi assumiu sua posição sendo a única mulher a compor o elenco do CBLOL até o ano de 2021, quando entrou Maria Julia “Fogueta” Junqueira e Layze “Lahgolas” Brandão, compondo o elenco principal junto com a equipe do Academy. E assim, Fogueta entrou pra história do CBLOL sendo a primeira narradora mulher.

Elas Fazem o Jogo

Dentro do competitivo de LOL, a história é totalmente diferente, o cenário durante esses dez anos foi dominado por homens no competitivo, as mulheres tiveram espaço apenas no cenário amador e em pequenas competições. Em 2015 tivemos a primeira inscrição de uma mulher no competitivo de LOL, na antiga Kabum Black, Geovana “Revy” Moda, porém, a mesma não chegou a jogar. Em 2019 a INTZ contratou a jogadora Julia “Mayumi” Nakamura, após a disputa da Superliga ABCDE pela Intrépidos, ela ficou como suporte reserva e nunca chegou a estrear no CBLOL. No ano seguinte a Rensga anunciou Gabriela “Harumi” Silvério, que até então fazia parte do circuito desafiante pela equipe, como suporte reserva e disputou uma partida sendo a primeira mulher a competir oficialmente no CBLOL.

Com a mudança em 2021 e com o inicio do sistema de franquias e a implantação do Academy, tiveram 5 mulheres inscritas nas escalações de vários times. Ariel “Ari” Lino e Larissa “Lawi” Santos pelo Cruzeiro Esports. Gabriela “Harumi” Silvério se manteve na Rensga naquele split, porém pelo Academy. Elizabeth “Liz” Sousa pela Loud e Tainá “Yatsu” dos Santos pela INTZ.

Naquele mesmo ano a Riot anunciou a mudança de casters colocando, Layze “Lahgolas” Brandão e Maria Julia “Fogueta” Junqueira no elenco do Academy e posteriormente no CBLOL.

No dia 10 de setembro de 2022 ocorreu uma final inédita do CBLOL Academy, na qual ambas as equipes nunca havia sido campeãs anteriormente e as duas tinham pela primeira vez mulheres participando no elenco, evento nunca acontecido antes na história do LOL. As equipes eram a Pain Gaming com a Leticia “Miss” Porto, atuando como suporte e a Red Canids com a Barbara “Jime” Prado como ADcarry, ambas jogaram uma partida pelas equipes no Academy. Nenhuma das duas jogou a final, porém a equipe dos Tradicionais levou a melhor pra cima da Matilha e ganharam a final fazendo história, tendo a jogadora Miss como primeira mulher campeã do CBLOL/Academy.

Perspectiva do competitivo feminino
Em entrevista com a jogadora Natalia “Copin D’agua” Brito, 22 anos, questionamos como é enfrentar um cenário que durante tanto tempo foi dominado por homens “Muitas mulheres consideram impossível entrar no mundo competitivo. Eu tive vontade quando tinha uns 17/18 anos, só que vi essa barreira, então desisti” disse ela. “Ai conheci o CBLOL por causa do meu namorado e logo já criei um time, comecei a fazer live todo dia, entrei na Sakuras¹, comecei a ter aula com coach e agora começou realmente o cenário profissional, fiquei bem feliz” termina ela.

¹As Sakuras eram uma organização independente feminina de esports, criada em 2018 por mulheres que queriam poder jogar sem sofrer machismo, tinham uma estrutura que podiam falar sobre jogos, ensinar e promover campeonatos. O projeto chegou ao fim no final de 2021 por brigas internas.

Perguntamos qual sua maior inspiração para competir no LOL “Acho que não tive uma pessoa como inspiração, quis jogar quando assisti o Worlds (campeonato mundial de League of Legends) e achei muito legal, quero ser a primeira ou uma das primeiras mulheres a chegar lá” diz ela com um sorriso esperançoso no rosto.

O cenário de LOL tem algo chamado Inhouse, ele é dividido no Inhouse Open, que é para todos e o Inhouse Jinx, que é exclusivamente feminino, na entrevista, Copin D’agua nos contou um ocorrido que aconteceu durante uma partida no Inhouse Open “Eu e uma amiga éramos as únicas mulheres jogando e tinha cerca de oitos pessoas na call, de repente eles começaram a gritar, reclamar, zoar. Eu e minha amiga mutamos eles, quando desmutei estavam falando coisas como “essa mulher na jungle é horrível, devia tá lavando a louça, podia ser outro cara” a minha amiga era a ADCarry “essa ADc é horrível preferia estar jogando com outra pessoa” e eu só mutei e terminei de jogar” ela conta que em suas redes sociais chegou a sofrer assédio, mesmo que pouco.


Perguntamos a opinião dela sobre a democratização no mundo dos esports “Acho que ainda não chegamos nesse ponto, tenho sorte dos meus pais me apoiarem, mas não é todo caso que é assim.” Questionada se acredita que consegue viver apenas do esports ela respondeu “Ainda não, acho que no futuro sim, ainda mais que agora o esport feminino está criando uma certa visibilidade” Perguntamos se ela já tinha pensado em desistir de jogar e Natalia respondeu aos risos “Sim, mês passado e o que não fez eu desistir foi o CBLOL, e eu daria o conselho de focar em você, criar uma meta e pensar só naquilo, e dividir pequenas metas para aproveitar cada conquista.”

Finalizamos a entrevista com a pergunta sobre a perspectiva para o futuro das mulheres no esports “Acho que vai ter melhora, já temos mais oportunidades para mulheres que jogavam há alguns anos ou até mesmo em outros jogos e estou com uma grande esperança nesse momento.” Qual sua expectativa para o IGNIS CUP? “Vou tentar jogar, não sei se dá pra conseguir um top3, por que não me considero tão boa assim, mas claro que sonho em chegar ali.”


Natalia Jogava DOTA anteriormente ao LOL, mas não competitivamente, apenas jogava por jogar, começou a jogar League of Legends em maio de 2021.

O cenário de LOL tem algo chamado Inhouse, ele é dividido no Inhouse Open, que é para todos e o Inhouse Jinx, que é exclusivamente feminino, na entrevista, Copin D’agua nos contou um ocorrido que aconteceu durante uma partida no Inhouse Open “Eu e uma amiga éramos as únicas mulheres jogando e tinha cerca de oitos pessoas na call, de repente eles começaram a gritar, reclamar, zoar. Eu e minha amiga mutamos eles, quando desmutei estavam falando coisas como “essa mulher na jungle é horrível, devia tá lavando a louça, podia ser outro cara” a minha amiga era a ADCarry “essa ADc é horrível preferia estar jogando com outra pessoa” e eu só mutei e terminei de jogar” ela conta que em suas redes sociais chegou a sofrer assédio, mesmo que pouco.


Perguntamos a opinião dela sobre a democratização no mundo dos esports “Acho que ainda não chegamos nesse ponto, tenho sorte dos meus pais me apoiarem, mas não é todo caso que é assim.” Questionada se acredita que consegue viver apenas do esports ela respondeu “Ainda não, acho que no futuro sim, ainda mais que agora o esport feminino está criando uma certa visibilidade” Perguntamos se ela já tinha pensado em desistir de jogar e Natalia respondeu aos risos “Sim, mês passado e o que não fez eu desistir foi o CBLOL, e eu daria o conselho de focar em você, criar uma meta e pensar só naquilo, e dividir pequenas metas para aproveitar cada conquista.”

Finalizamos a entrevista com a pergunta sobre a perspectiva para o futuro das mulheres no esports “Acho que vai ter melhora, já temos mais oportunidades para mulheres que jogavam há alguns anos ou até mesmo em outros jogos e estou com uma grande esperança nesse momento.” Qual sua expectativa para o IGNIS CUP? “Vou tentar jogar, não sei se dá pra conseguir um top3, por que não me considero tão boa assim, mas claro que sonho em chegar ali.”


Natalia Jogava DOTA anteriormente ao LOL, mas não competitivamente, apenas jogava por jogar, começou a jogar League of Legends em maio de 2021.

Em 2021, o competitivo recebeu o anúncio do Game Changers, com apoio da Riot Games e grande investimento financeiro, a iniciativa teve como objetivo alimentar o cenário feminino, com o fomento de mais campeonatos independentes e gerando maiores oportunidades para que talentos femininos surjam e se desenvolvam no e-sports.

Uma iniciativa que se dá a passos lentos em outros cenários competitivos do e-sports, como no caso de League of Legends, jogo também desenvolvido pela Riot Games, que teve seus primeiros investimentos para integrar ao competitivo mais mulheres após uma década de seu lançamento.

O Valorant, sendo um jogo mais recente, já entrou no mercado com uma visão mais ampla sobre a importância da representatividade feminina e entre outras minorias presentes no competitivo, como por exemplo o público LGBTQIAP+.

A construção de ligas femininas, ainda são contestadas por parte do público geral, para essa parcela, o jogo misto é a melhor forma de descobrir novos talentos no competitivo, porém, com as barreiras impostas pelo machismo e sexismo nos jogos. Os apoiadores de ligas femininas acreditam ser importante a existência dessa modalidade, pois torna o campo mais abrangente para mulheres que desejam iniciar sua vida no e-sportes, para trilharem futuras carreiras no competitivo geral.

A visibilidade feminina no meio competitivo

Em entrevista com a jogadora Miranda “Seijuzinha” Medeiros, 18 anos, perguntamos como era ingressar em um cenário que foi considerado por tanto tempo masculino “Como uma pessoa trans, parece que não tenho um lugar próprio ainda. Comecei no LOL antes da transição, as mulheres estão sendo inclusas agora e a minoria delas são as mulheres trans, algo como a minoria da minoria. Temos alguns cenários como o Inhouse Jinx que tem sido muito acolhedor para as mulheres trans, acho que a situação está melhorando sim, mas se for competir em um cenário misto ainda tem muito preconceito.” Diz ela.

Seguindo, questionamos sobre receber comentários inoportunos ou machistas por querer competir nesse meio “Já li algumas coisas ruins, mas eu jogo sem chat, então eu meio que me blindo de comentários desse tipo. Agora se for sobre algum familiar ou amigo, não, nunca sofri algo do tipo.”

Miranda conta que já sofreu assédio em suas redes sociais “é incomum, mas nesse caso foi com uma pessoa em específico, provavelmente deve ter acontecido em lives também, mas eu não dou muita atenção pra isso.” Ela deu sua opinião se existe uma rede de apoio na comunidade “Tem, mas nem tanto, temos o Inhouse Jinx, mas não tem muita visibilidade, para resolver isso, o certo seria divulgar mais ou melhorar um pouco o sistema do Inhouse, porque às vezes tem alguns probleminhas também, mas estou animada com o IGNIS, acho que vai dar uma mudada nesse cenário, vejo uma tendência de melhora.” Falando sobre o IGNISCUP perguntamos sobre suas expectativas sobre o campeonato “Estou animada, ainda não fui convidada para nenhum time, mas acho que vai ser um dos campeonatos com mais visibilidade que competirei, é um cenário com mais segurança, uma sensação de vai ficar tudo bem.”


Miranda deu sua visão sobre o cenário atual das mulheres no esports “vejo como um cenário mais vulnerável do que o cenário masculino, um cenário onde se tem menos profissionalismo e menos expectativas de você crescer, por não ter visibilidade e não ter a dedicação necessária.” Finalizamos a entrevista perguntando a perspectiva de futuro dela sobre as mulheres no cenário “Vejo uma melhora. A questão é não idealizar muito para não ter uma quebra de expectativas, isso é algo que depende muito dos próximos acontecimentos, da execução do IGNIS CUP, da melhora do Inhouse Jinx, quero acreditar que haverá melhora, mas, sinceramente tenho um pé atrás.” Finaliza ela.

Miranda joga League of Legends desde março de 2016, anteriormente jogava jogos de console e os primeiros jogos que jogou foram em Playstation2, mas nada competitivo.


Investimento atual no cenário competitivo

A Riot Games Brasil anunciou o primeiro circuito feminino oficial de League of Legends no país, o IGNIS CUP. O campeonato é uma sequência do projeto LoL Game Changers, que contou com iniciativas para mulheres jogarem profissionalmente, atuando como casters ou mesmo analistas do MOBA. Ao todo, a premiação do circuito será de R$ 110 mil, valor dividido entre todas as fases da competição. A ação vai acontecer entre os dias 13 de outubro a 12 de novembro.

Riot Games em parceria com o Santander e com a Heineken, trouxe esses patrocínios para o primeiro grande campeonato feminino mostrando a importância deste evento para o cenário e no primeiro qualificatório que ocorreu do dia 13 de outubro até o dia 16 de outubro teve o total de 22 times inscritos e 125 jogadoras competindo. Grandes organizações anunciaram lines para o campeonato entre elas a tradicional Pain Gaming e a Netshoes Miners. A Liberty Esports ofereceu bootcamp (treinamento) para equipes femininas sem organização fixa para assim impulsionar o cenário feminino de League of Legends com o objetivo de auxiliar na profissionalização de mulheres que tem o desejo de se firmar neste meio.


Em comunicado à imprensa, o head de esports da Riot Games Brasil, Carlos Antunes disse sobre o IGNIS CUP:

“Estes novos campeonatos fazem parte da nossa estratégia de implementar torneios e formatos para incentivar o cenário feminino, e vêm fortalecer o ecossistema de esports. E, como anunciamos no início do ano, esta é uma das prioridades de atuação para a Riot Games. Com estas iniciativas, queremos abrir caminho para um movimento de incluir, no lado esportivo, as mulheres que têm a intenção de entrar no mercado, no segmento de esports”


Matéria por: Beatriz Losito, Ingrid Silva e Juliana Beletato